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Inovação para além do clichê

Inovação para além do clichê 05 MAIO

Professor do Ibmec BH, Marconi Martins de Laia argumenta que processos inovativos só fazem sentido se resolverem necessidades reais

por Marconi Martins de Laia*

Falar em inovação se transformou em algo clichê, da moda. O campo da administração é repleto de estereótipos. De tempos em tempos, surgem novos modismos que começam a figurar em livros, palestras, eventos e nos corredores organizacionais. A inovação é a tendência da vez. Contudo, não há uma relação direta entre modismos organizacionais e resultados empresariais. No que diz respeito à inovação, ela deveria incrementar a produtividade do País, e não é isso que se observa. Mais informações podem ser vistas aqui e aqui. Embora o vídeo do professor Marcos Lisboa seja de 2015, o cenário não mudou de forma substancial.

Em nenhuma hipótese isso significa afirmar que a inovação não é relevante. Em contextos corporativos, talvez o mais importante seja tratá-la não como um fenômeno novo, mas como um desafio que ganhou maior destaque nos últimos anos. Além disso, é fundamental entender as barreiras presentes no ambiente organizacional que geram obstáculos aos processos inovativos. Nesse curto espaço, quatro deles me vêm à mente.

Em primeiro lugar, é que inovação somente faz sentido se estiver associada à necessidade real dos clientes ou do público-alvo da organização. Inovar tem de estar vinculado ao atendimento de demandas reais e/ou potencias. Isso pode dar a ideia de que o processo de compreensão de tais necessidades é formado por uma lógica analítica perfeita em que se entende as carências do mercado e, a partir daí, promove-se a inovação. Contudo, ela deve ser vista muito mais como um roteiro emergente em que diversas tentativas e experimentações são realizadas, muitas delas malsucedidas, até que soluções que resolvam problemas reais dos consumidores sejam encontradas. A resiliência tem um papel-chave nessa questão.

Entretanto, a adoção de tentativa e erro não é a antítese da compreensão das necessidades do mercado por meio de análise estruturada. Pelo contrário, a própria experimentação, muitas vezes envolvida em processos de cocriação com o público-alvo, deveria ser o termômetro para o entendimento de demandas reais/potenciais e para o aprendizado organizacional. Mitigaria-se, dessa maneira, a criação dos produtos e serviços que prometem inovações, mas não aderem às carências e desejos das pessoas. Por outro lado, cria-se um ambiente de aprendizado com base na percepção de que estudar a jornada do cliente é vital.

Nesse sentido, observa-se o segundo desafio para os processos inovativos: os sistemas de avaliação de desempenho das empresas normalmente focam em benefícios de curto prazo, e não naqueles difusos, de longo prazo. Para inovar, as pessoas precisam errar – e, infelizmente, organizações não preparam lideranças para tolerar o erro. Assim, acabam medindo o desempenho de seus colaboradores apenas com foco no curto prazo, o que inibe muitas das intenções de tentativa, erro e aprendizagem dos funcionários.

Em terceiro lugar, é fundamental entendermos que inovação está associada a ambientes com alto grau de conhecimentos técnico e científico. Não há como inovar sem know-how. A história corporativa está farta de exemplos de tal realidade. Especialmente a disrupção provocada pela internet e novas tecnologias digitais mostrou como a expertise técnica faz diferença. Organizações precisam investir em gente qualificada e, ao mesmo tempo, capacitar aqueles que não o são. Conhecimentos técnico e científico andam de braços dados com a inovação. Basta ver o caso do Vale do Silício, cercado por universidades de ponta, como Stanford e Berkeley.

Por último, inovação sem priorizar resultados e sem mensuração é uma piada. Organizações públicas e privadas não têm tradição em mensurar seu desempenho com ênfase nos resultados. É incomum ver sistemas sólidos de medição de desempenho. Sem métricas que mostrem uma evolução clara nos resultados, falar em inovação é pura propaganda. Já entregar produtos diferentes que resolvam demandas reais dos consumidores e que garantam a sustentabilidade da organização é, de fato, inovação.

Organizações precisam pensar em inovação vinculada a ganhos reais de produtividade, redução de custos e melhoria da jornada do cliente. Caso contrário, aguardaremos o próximo clichê aparecer.

*Marconi Martins de Laia é professor do Ibmec BH

Fonte: InfoMoney

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